Foi isso mesmo que você leu: uma nascente está prestes a morrer. No dia 10 de outubro de 2024, em matéria divulgada pelo Jornal Independente, deparamo-nos com uma notícia aterrorizante! Segue o trecho na íntegra:
Cerca de 280 exemplares nativos serão suprimidos de uma área às margens da rua Carlos Spohr Filho, no Bairro São Bento, próximo ao mercado Alles Gut, para dar início à construção de um parque público no local. O manejo está amparado pelo parecer técnico emitido pela SEMA nº 014-04/2024 e terá como medida compensatória o plantio de 659 mudas nativas.
Este trecho está muito timidamente colocado no fim da matéria escrita pelo Independente, cujo título principal faz menção a “Árvores mortas pela enchente e com risco de queda”. Sem uma leitura atenta, dá a entender que as árvores que serão suprimidas no Bairro São Bento também teriam sido mortas pela enchente, o que, na prática, não faz sentido algum! As árvores estão, pelo contrário, saudáveis e de pé, sustentando uma rica biodiversidade no local.
Bom, imaginávamos que, em outubro, o terror ficaria resguardado para as fantasias de Halloween e para as travessuras das crianças, pelo visto estávamos errados!
Como isso é possível?
Tendo sido constatada a intenção de construção do parque no local, fomos atrás de mais informações. O primeiro passo foi entrar em contato, no dia 11 de outubro, com a Secretaria do Meio Ambiente (SEMA) de Lajeado, responsável pela emissão do parecer técnico que viabiliza a supressão das árvores SAUDÁVEIS para a construção do parque.
Surpreendentemente, ninguém do departamento soube nos informar sobre a emissão da licença, nem sabiam sobre o parque!
Logo, diante da dificuldade de verificação com o órgão competente, tivemos que ir atrás de mais informações de forma autônoma. A primeira notícia que tivemos foi que, há alguns anos atrás, foi firmado um TAC (Termo de Ajustamento de Conduta) para a preservação do local em referência. Inclusive, na época da instalação deste loteamento, essa área foi definida como de Preservação Permanente (APP). Além disso, através dos dados shapefile disponibilizados pela própria SEMA, é possível constatar a presença de drenagem hídrica no local. Dê uma olhadinha no mapa abaixo:
Confirmamos a presença da drenagem hídrica no local, através de vistoria realizada por nossa entidade. Mas não foi só isso: o curso hídrico, de fato, pode ser entendido como um possível formador de APP (Área de Preservação Permanente). Convidamos o leitor a conferir algumas fotos e vídeos que fizemos no local, cuja beleza e água limpa surpreendem!
No caso da existência de uma vertente, segundo a legislação brasileira, o raio de preservação seria de 50 metros, conforme mostramos na imagem a seguir:
O mais cômico, para não dizer trágico, é que o projeto do parque, aparentemente, não vai ter nenhuma árvore! Novamente, o poder público, sem ouvir a população e as entidades que defendem o meio ambiente, vai utilizar, ao que tudo indica, recursos provindos de seus contribuintes para prejudicar a todos nós, a natureza. O vídeo, com o projeto do parque, pode ser visto em publicação compartilhada pelo Grupo A Hora no Instagram:
Diante de tudo isso, fizemos a solicitação de mais informações para a secretaria e seguimos, até agora, sem qualquer retorno.
A notícia, veiculada 4 dias após o resultado das eleições municipais, nos traz grande preocupação. Queremos respostas urgentes da atual administração e acompanhamos, de perto, a gestão de Gláucia Schumacher, atual vice de Caumo, que se comprometeu em seguir os pontos elencados em Carta Aberta publicada pela Ecobé.
Seguiremos atentos e vigilantes.
Quer somar conosco na luta para garantir uma cidade ambiental e socialmente justa? Então clique aqui e preencha o formulário, no final da página, para se tornar um voluntário!
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